A greve dos professores e técnicos da Uern (Universidade Estadual do Rio Grande do Norte) por melhores salários e mais estrutura completa 84 dias nesta terça-feira (23) com prejuízos aos estudantes. Além dos alunos da instituição, a paralisação afetou também o edital de lançamento do vestibular, que estava previsto para julho e ainda não foi publicado. Já as provas, que deveriam ser realizadas em dezembro, só devem ocorrer no segundo bimestre do próximo ano, caso a greve seja encerrada nos próximos dias.
Os professores e técnicos paralisaram as atividades no dia 31 de maio para pedir reajuste de 23,98%, recuperação de recursos cortados do orçamento estadual e autonomia financeira da instituição. Nesta segunda-feira (22), os grevistas lançaram um manifesto pelo Twitter. Com uma hashtag #emdefesadaUERN, o assunto chegou a ser o mais comentado do país na rede social.
Na última semana, os professores decidiram aceitar a proposta do governo –que propôs 27,7%, mas divididos em três vezes: 10,65% em abril de 2012, 7,43% em abril de 2013 e 7,43% em abril de 2014. Porém, para pôr fim à greve, os professores exigem que o percentual seja acrescido da variação da inflação acumulada no período pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). A categoria espera agora por uma resposta da Secretaria Estadual de Administração, que está analisando a contra-proposta. Uma assembleia, que estava marcada para esta terça-feira, foi adiada a espera de uma resposta.
O presidente da Aduern (Associação dos Docentes da Uern), Flaubert Torquato, disse que a greve tem duas motivações, mas pode estar perto do fim. “Já aceitamos a proposta salarial, abrindo mão do reajuste em 2011. Queremos apenas que seja garantida a inflação do período. Hoje, o governo descumpre o nosso plano de carreiras. Outro ponto que questionamos é o orçamento, que é muito pequeno. Para custeio e investimentos, os recursos de 2011 não passam de R$ 15 milhões. Só que 30% desse dinheiro foi contingenciado pelo governo. Nós temos seis campi, com 13 mil alunos e 12 núcleos. Não dá para manter essa estrutura com esse valor insignificante”, afirmou.
Segundo ele, a falta de recursos atrasa o pagamento das bolsas de pesquisa e paralisou obras em Natal e em Caicó. “O campus de Caicó funciona num CAIC (Centro de Atenção Integrada à Criança), de forma improvisada. Nós temos situações em que professores e alunos fazem cotas para pagar a diária do motorista e o combustível do veículo. Temos só um ônibus para cobrir tudo”, afirmou, citando que, por conta desses cortes, os docentes pedem a autonomia financeira da universidade.
Em resposta aos questionamentos do UOL Educação, o reitor da Uern, Milton Marques de Medeiros, disse que, se o bom senso prevalecer, a greve será encerrada em breve. “A categoria reivindicava 23,98% e o governo propôs 27,70% parcelado em três anos. O comando de greve aceita essa proposta desde que haja correção inflacionária de um ano para outro. Numa negociação como essa que já ultrapassa 80 dias, é preciso que haja o diálogo entre as duas partes e que cada uma ceda um pouco para que seja possível o entendimento”, disse, informando que a Secretaria de Administração é quem está analisando a possibilidade de reajuste dos servidores.
Sobre os cortes do governo ao orçamento da Uern, o reitor garantiu que “o descontingenciamento já foi sinalizado como possível pelo governo”, mas não deu garantias de que isso ocorrerá.
O reitor ainda lamentou que o semestre acadêmico da Uern tenha sido prejudicado, impedindo a formatura dos alunos concluintes. “Porém, é importante destacar que nossas atividades de pesquisa e da pós-graduação, bem como atividades extensionistas, não foram paralisadas. A Uern está presente em todo o Estado, através de seus seis Campi e 11 Núcleos Avançados de Educação Superior, é de uma importância fundamental para a Educação Superior no Rio Grande do Norte”, destacou.
Vestibular adiado
Em comunicado oficial, a Comperve (Comissão Permanente de Vestibular) da Uern informou que o PSV (Processo Seletivo Vocacionado) 2012 ainda não tem data oficial para a publicação do edital. Na previsão mais otimista, caso a greve seja encerrada esta semana, a ideia é que o PSV seja realizado no final de fevereiro ou início de março.
“A greve tem trazido alguns transtornos para a realização do PSV. Para nosso cronograma ser executado, dependemos do trabalho do corpo docente e técnico-administrativo”, admitiu Egberto Mesquita, coordenador da Comperve, em nota oficial.
Sobre o atraso do vestibular, o presidente da Aduern, Flaubert Torquato, disse ao UOL Educação que ele pode até ser positivo, já que uma greve dos trabalhadores em educação do Estado –que durou 80 dias e terminou no mês passado-- atrasou o calendário de aulas do ensino médio. “As aulas da rede básica de ensino do Estado vão entrar em 2012. Se o vestibular acontecesse no prazo previsto, poderia prejudicar esses alunos”, disse.
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